Arte ou 'distração' no semáforo?

Ao sinal de vermelho no semáforo, eles entram em cena. Com pinos, cones, bolas e até mesmo facas, os malabaristas mostram o que sabem em frente aos carros nas principais ruas do Centro de Brusque.
João Paulo Galitzki (32) é natural de Brusque, mas mora em Campo Alegre (SC) e se desloca, aproximadamente, duas vezes por ano para a cidade natal. É um trabalho que a gente tem que viver na estrada, uma semana em um lugar, duas em outro. Mas é bom, porque eu conheço vários lugares, conta. Quando está em Brusque, ele fica nas casas de parentes, hotéis ou em Itajaí, onde moram amigos.
Ele começou com o malabarismo quando visitava outro estado. Eu estava no Rio de Janeiro e era artesão, aí conheci um senhor dono de uma escola de circo e aprendi o malabarismo e outras artes circenses. Então, fiquei trabalhando numa companhia de teatro, relembra, afirmando que, depois de um tempo, abandonou o circo e começou a fazer o trabalho na rua.
Para ele, a receptividade dos brusquenses é notada, além da contribuição em dinheiro, pelos elogios. Esta recepção, segundo João Paulo, vem da educação de cada um. A pessoa com um pouco mais de cultura já entende que é uma arte, ela olha para o teu equipamento, para o que você está fazendo e vê que não é um morador de rua, explica.
Como o malabarista caracterizou, assim é a visão da aposentada Eva Francisca dos Santos Fonseca, que diz ser uma arte aquilo que lhe é apresentado nos semáforos. Eu acho que eles não atrapalham em nada. Eles enfeitam a cidade. Às vezes, estou com crianças no carro e elas gostam de ver, comenta ela.
Para o pedreiro Gilson Graeff, o trabalho dos equilibristas é como qualquer outro e não atrapalha o trânsito. Se é uma coisa certa o que eles estão fazendo, é melhor do que ficar pedindo esmola e nós ajudamos porque vemos que eles estão fazendo por merecer, opina.
Galitzki faz malabarismo com facão, clone, clava, anda de monociclo e perna de pau, tudo isso para sustentar os filhos e a esposa.
Com opinião oposta, o frentista Nilson Merísio diz ser contra a prática, devido ao perigo que isso traz para o próprio malabarista. Eu vi uma vez, de noite, um argentino ser atropelado. Um corre pra cá, outro pra lá, e assim é atropelado. Tem que cuidar, principalmente à noite. Mas é melhor que faça isso do que faça algo ruim, avalia ele.
Outro equilibrista que é encontrado nos sinaleiros da cidade é Robson de Amorim (29), o Grillo Amorim. Ele conta que iniciou na atividade por acaso. Comecei em casa, por hobby, apenas brincando e vi vídeos para melhorar. Num determinado momento, eu vi que poderia usar isso para trazer sorrisos, não só pra mim, mas para várias pessoas.
Para Amorim, o trabalho com malabarismo é um gerador de sorrisos. Uma pessoa que trabalha com alegria, com a felicidade. Dificilmente me pego estressado, nervoso quando estou fazendo malabarismo. Isso flui naturalmente. Quando uma pessoa que está muito estressada no trânsito e ela acaba dando um sorriso, para mim, já é muito satisfatório, afirma.
Além do malabarismo, Grillo trabalha pela manhã em uma tinturaria, pois está guardando dinheiro para poder viajar na próxima semana para a Argentina, onde participará de um encontro de circo. Eu tenho um emprego formal e, além disso, faço eventos como festas de criança, shows e tudo que puder animar. Alugo cama elástica, piscina de bolinha, pintura facial, malabarismo e acrobacia, relata.
Segundo ele, o que mais incentiva a continuação da arte são os sorrisos e os aplausos. Quando a gente faz as coisas com o coração, sem esperar nada em troca, acaba recebendo mais, finaliza.