Brusquense contraria criação de lei da primeira imigração italiana no Brasil

A Lei Federal 13.617/2018, sancionada pelo presidente Michel Temer no dia 11de janeiro e publicada no Diário Oficial da União na sexta-feira, dia 12, atribui, equivocadamente, ao município de Santa Teresa, no Espírito Santo, o título de "Pioneiro da Imigração Italiana no Brasil", que de fato pertence a Colônia Nova Itália, município de São João Batista.

A afirmação é do historiador brusquense, Paulo Vendelino Kons, que ajudou a fundar “Associação dos Descendentes e Amigos do Núcleo Pioneiro da Imigração Italiana no Brasil” (ADANPIB), na assembleia realizada em 11 de março de 2017, no salão de festas da Comunidade São José, em Colônia, com a participação das principais autoridades de São João Batista, do bispo Dom Vitus Schlickmann, do corregedor-geral do Ministério Público, Gilberto Callado de Oliveira, e do Príncipe Dom Bertrand

Segundo Kons em 1836 foi fundada, por 132 imigrantes católicos do Reino da Sardenha (precursor do Reino de Itália), a primeira colônia de italianos no Brasil, a Colônia Nova Itália, localizada no vale do Rio “Tijucas Grande”, no hoje município de São João Batista, em Santa Catarina. Os pioneiros imigrantes italianos, que viriam colonizar e desenvolver terras brasileiras, aportaram em março de 1836 à baía norte da Ilha de Santa Catarina, no porto do Desterro (hoje Florianópolis), transportados pelo navio Correio.

E o início da colonização italiana no Espírito Santo ocorreu 37 anos e 11 meses após, em 21 de fevereiro de 1874, quando o navio La Sofia chegou a porto de Vitória, com 388 camponeses trentinos e vênetos. A iniciativa da lei que concedeu o “título” à cidade capixaba foi do deputado federal Sérgio Vidigal (PDT-ES).

A iniciativa de criação e instalação da Colônia Nova Itália foi do médico e violinista Henrique Ambauer Schutel, natural de Milão (também detentor de cidadania suiça), agente consular do rei de Sardenha, e do armador Carlo Demaria, cidadão inglês (por ter nascido em Gibraltar, possessão inglesa) com raízes em Gênova, que em 1835 constituem a empresa Demaria e Schutel, sociedade particular de colonização.

O primeiro Diretor da Colônia Nova Itália foi o suiço Luc Montandon Boiteux, que se estabeleceu na Colônia Nova Itália acompanhado da esposa, de um filho menor, e de quatro escravos.

Pioneiros

Após as medições, foi constado que o território da Colônia Nova Itália contava com 9.434 braças de frente, sendo 7.034 braças na margem norte distribuídas a 23 famílias e 2.400 braças na margem sul, distribuídas por sete famílias (três famílias já haviam se fixado na cidade do Desterro), sendo 29 homens de mais de 20 anos, 27 mulheres entre 18 e 45, 66 jovens de ambos os sexos de 1 a 17 anos e três crianças já nascidas na Colônia:

Assim, a listagem inicial fora esta:

ANDRÉ PESCO: casado, família com 7 pessoas;

ANDRÉ RIOLFO, solteiro;

ANTONIO ALERTO: casado, família com 8 pessoas;

ANTONIO CAVIGLIA: casado, família com 4 pessoas;

ANTONIO MONTADO: casado, família com 3 pessoas;

BARTOLOMEU SARDA: casado, família com 4 pessoas;

BERNARDO GAMBELLI: casado, família com 3 pessoas;

BLAUSORO BUSANO;

DAVI RAMASCY: solteiro

DOMENICO MATTIA;

FILIPPO GIORDINO: casado, família com 5 pessoas;

FILIPPO POLERES: casado, família com 3 pessoas;

GIACOMO PESCO: casado, família com 6 pessoas;

GIACOMO PISLORI: casado, família com 8 pessoas;

GIACOMO RIBAN;

GIOVANNI BENOTTI;

GIOVANNI GROSSO, casado, família com 3 pessoas;

GIOVANNI PESCO, casado, família com 6 pessoas;

GIOVANNI RILLA;

GIOVANNI BUSANO: casado, família com 4 pessoas;

GIUSEPPE BUSANO: casado:

GIUSEPPE VALERINO: casado, família com 7 pessoas;

GIUSEPPE ZUNINO: casado, família com 7 pessoas;

LUIGI RATTO;

MATTIA PASTORIO, casado, com 5 pessoas na família;

MICHELE PESCO: casado, família com 8 pessoas;

SANTO MADONA: viúvo, família com 5 pessoas;

SEBASTIANO PESEO: casado, família com 4 pessoas;

STEFANO FORMENTO: casado, família com 4 pessoas;

STEFANO SUZENO: casado;

VICENTE PERES: casado, família com 6 pessoas.

O primeiro  grupo era assim formado pelas famílias PESCO, RIOLFO, ALERTO, CAVIGLIA, MONTADO, SARDÁ, GABELLI, BUSANO, RAMASCY, MATTIA, POLERES, PISLORI, RIBAN, BENOTTI, GROSSO, RILLA, SUSANO, VALERINO, ZUNINO, MADONA, PESEO, FOMENTO, SUZENO e PERES.

Com o passar do tempo, e em razão da regulamentação de registros pelas autoridades brasileiras, alguns nomes acabaram adaptados a língua portuguesa, passando a serem escritos como: SARDO, GAMBETA, BOZZANO, CAVILHA, PERA, PEIXER, FORMENTO, ZUNINO, entre outros.

Mais tarde chegaram outros imigrantes à colônia Nova Itália, como os integrantes das famílias: SARTORI, ANGELI, CORSANI, TRAINOTTI, PUEL, MAZOTO, MARTINI, TOMAZONI, SGROTT e outros.

 

Carta de Paulo Vendelino Kons à imprensa:

A nova lei NÃO corresponde à verdade histórica por dois motivos:

1 - A primeira experiência de colonização italiana é de 1836 com a fundação da Colônia Nova Itália em Santa Catarina. Comprovadamente.

2 - A escolha de Santa Teresa se baseou na data de chegada do navio "La Sofia", ligado àquela que ficou conhecida como Expedição Tabacchi, ocorrida em 1874, mas a expedição foi chefiada por um cidadão austríaco e foi feita com maioria absoluta de imigrantes austríacos.

Por que se trata de um equívoco?

Pietro Tabacchi era natural de Trento (Província do Tirol, Império Austríaco) e trouxe em 1874 algumas famílias de tiroleses (austríacos) e vênetos (italianos) para o Espírito Santo.

A Expedição Tabacchi chegou ao Espírito Santo 38 anos após a fundação da Colônia Nova Italia em Santa Catarina!

A primeira viagem aconteceu no dia 3 de janeiro de 1874, com saída às 13 horas do Porto de Gênova (Reino da Itália), em um navio a vela de bandeira francesa chamado "La Sofia. Nele embarcaram imigrantes austríacos de língua italiana (do Tirol) e imigrantes italianos (do Vêneto).

A segunda expedição se fez com outro navio francês, chamado " Rivadavia", que chegou ao Brasil em 1875.

Como pode que se queira comemorar a imigração italiana no Brasil baseando-se em uma imigração austríaca?

Talvez a comemoração se baseie na língua falada pelos imigrantes? Mas isso se torna um pouco "problemático" do ponto de vista histórico: os imigrantes belgas de língua francesa seriam franceses? Os imigrantes suíços e austríacos de língua alemã seriam imigrantes alemães? Devemos considerar a nacionalidade, a etnia ou a língua do imigrante? Se consideramos a língua, então por qual motivo a Colônia Nova Itália foi excluída?

O Brasil, mais uma vez, comete uma gafe com a história.

Por que Temer errou ao nomear Santa Teresa o "berço" da imigração italiana no Brasil?

Por EVERTON ALTMAYER - Mestre em Filologia e Língua Portuguesa e Doutor em Língua e Cultura Italiana pela Universidade de São Paulo - USP

Desde 2015 temos publicado estudos sobre a história da imigração austríaca no Brasil com documentos que demonstram fatos históricos relevantes sobre os imigrantes austríacos de língua italiana oriundos do sul do Tirol (região de Trento).

Ao mesmo tempo em que procuramos esclarecer fatos acerca da identidade nacional dos imigrantes tiroleses, publicamos também algumas informações necessárias sobre o início da colonização italiana em nosso país, haja vista que muitas pessoas ainda acreditam (ou são levadas a acreditar) que os imigrantes saídos da região de Trento eram imigrantes italianos.

A confusão se deu, principalmente, porque muitos imigrantes austríacos aqui chegados eram de língua italiana, um fos mais de dez idiomas oficiais do antigo Império Austríaco.

Na sexta-feira passada (12/01/2018), o presidente Michel Temer sancionou uma lei que reconhece a cidade capixaba de Santa Teresa como "berço" da colonização italiana no Brasil.

Tratou-se um equívoco.

A escolha de Santa Teresa se baseou na data de chegada do navio "La Sofia", ligado àquela que ficou conhecida como Expedição Tabacchi, ocorrida em 1874.

Entretanto, a expedição foi chefiada por um cidadão austríaco e foi feita com maioria absoluta de imigrantes austríacos de língua italiana oriundos da parte sul da província do Tirol, no Império Austríaco, região que foi ocupada e anexada pelo Reino da Itália após a Primeira Guerra Mundial.

Mas, afinal, quando a imigração italiana teve início no Brasil?

Muito antes de 1874. A primeira experiência com imigrantes italianos ocorreu no longínquo 1836 com a fundação da Colônia Nova Itália (o nome diz tudo) no território que atualmente se encontra no município de São João Batista, no estado de Santa Catarina. Foram 180 imigrantes vindos da Ligúria que sofreram, além da mudança de ambiente, o ataque feroz de índios que habitavam a região.

Naquele tempo, aquele que se tornaria o Reino da Itália (após 1860) ainda se chamava Reino da Sardenha e há certa confusão na interpretação do fato, de modo que alguns estudos dizem que os imigrantes que fundaram a Colônia Nova Itália eram oriundos da ilha da Sardenha.

Os defensores do título conferido a Santa Teresa afirmam que não é possível considerar a Colônia Nova Itália como pioneira porque o Reino da Itália não existia em 1836. Todavia, o nome "Reino da Itália" substituiu a denominação "Reino da Sardenha" no sangrento processo político que ficou conhecido como "Unificação Italiana".

Mas vale lembrar que 1874 não vale como data inicial porque em fevereiro de 1872, o imigrante italiano Salvino Tripotti chefiou a colonização daquela que foi chamada Colônia Alexandra, instalada na cidade paranaense de Morretes, trazendo consigo mais de 50 imigrantes vindos do Vêneto. Por conta de dificuldades, os colonos se transferiram em 1877 para uma nova colônia, na mesma cidade de Morretes, batizada com o nome de “Nova Itália”.

Antes ou depois da constituição do Reino da Itália, as duas primeiras experiências coloniais com imigrantes italianos no Brasil foram batizadas "Nova Itália", ao passo que Santa Teresa foi colonizada com maioria absoluta de imigrantes austríacos.

O link https://tiroleses.com.br/2015/09/02/140-anos-de-imigracao/ é de um texto escrito em 2015 quando, equivocadamente, comemorou-se em muitos lugares os "140 anos de imigração italiana no Brasil".

Everton Altmayer Leopoldino

Bacharel em Letras pela Universidade de São Paulo (2002 - 2006), também frequentou o curso de Filosofia da Faculade São Bento de São Paulo (2004-2006). Mestre em Letras pela Universidade de São Paulo / FAPESP (2007 - 2009), com estudo sobre a variante do português falado e o dialeto trentino na Colônia Tirolesa de Piracicaba, SP. Doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (2010 - 2014), com tese sobre o dialeto trentino da Colônia Tirolesa de Piracicaba, SP. Participa do projeto de resgate dialetal na comunidade trentina de Piracicaba, com produção de material didático e organização de dicionário. Atua principalmente nas seguintes áreas: língua portuguesa, fonética e fonologia, linguística histórica, sociolinguística, filologia românica, dialetologia do português, dialetologia do italiano, dialetologia do alemão.

Informações coletadas do Lattes em 11/09/2017

 

 

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