Às 16h desta segunda-feira, 1º. de janeiro de 2018, Santa Missa em ação de graças, celebrada na Capela da Ressurreição, marca o 46º. aniversário do Cemitério Municipal Parque da Saudade.
Resultado da fusão do Cemitério Católico do Centro (fundos da Igreja Matriz São Luís Gonzaga) e do Cemitério de Azambuja, o Parque da Saudade é fruto de uma ação conjunta da Igreja Católica, representada pelo Monsenhor Guilherme Kleine, e da Prefeitura de Brusque, nas gestões dos prefeitos Antonio Heil (Neco) e José Germano Schaefer. O professor e prefeito Alexandre Merico doou décadas de sua existência no apostolado realizado na Capela da Ressurreição do Parque da Saudade.
Coordenadores da Pastoral na Capela da Ressurreição, o casal Florentina Luiza Bertotti Vicentini e Nilo Vicentini informam que a Santa Missa marca os 46 anos de inauguração oficial do Cemitério Municipal, sendo que o primeiro sepultamento lá realizado foi em 1970. O cemitério Parque da Saudade era rejeitado pelos brusquenses, porque solitário. Foi aceito somente após o sepultamento ali do Monsenhor Guilherme Kleine, em 9 de janeiro de 1972, a terceira pessoa a ser sepultada no novo campo santo.
Monsenhor Kleine aposenta a caleça do Pruner
Ao final de sua vida, Monsenhor Guilherme Kleine (filho de Anton Kleine e Anna Koesters, nascido em 28 de outubro de 1914, na Alemanha, no estado da Renânia do Norte-Vestfália, região administrativa de Detmold, distrito de Paderborn, cidade de Büren) encerrou o ciclo da lendária caleça de Rodolfo Pruner, que foi utilizada pela última vez no sepultamento do sacerdote. Uma multidão acompanhado o féretro até ao Parque da Saudade. Kleine foi o primeiro Padre e a terceira pessoa a ser sepultada no Parque da Saudade, que fora por ele idealizado, seguindo o projeto dos modernos cemitérios-jardins então florescentes na Alemanha.
Quem transita por Azambuja e se depara com o Morro do Rosário, o Edifício do Peregrino, o imponente prédio do Seminário Menor Metropolitano Nossa Senhora de Lourdes, visualiza obras que marcam a dimensão empreendedora do Monsenhor Guilherme Kleine. Antecipando-se às necessidades vindouras, promoveu também a ampliação do Hospital Arquidiocesano Cônsul Carlos Renaux, duplicando sua capacidade. De sua iniciativa a aquisição da fazenda do Brilhante, em Itajaí, garantindo a produção de alimentos para as obras de Azambuja. A organização das Festas de Azambuja também marcou sua gestão, pelos excelentes resultados auferidos a partir dos laços de amizade que vinculavam Padre Kleine à comunidade brusquense e regional.
“NOS 28 ANOS EM QUE JUNTOS CONVIVEMOS, CONHECEMOS BEM A GRANDEZA DE SUA ALMA E A CAPACIDADE DE SEU TRABALHO. TINHA COMO LEMA PRINCIPAL O PROGRESSO E A AJUDA AO PRÓXIMO” (Industrial Carlos Cid Renaux, nos funerais de Monsenhor Kleine)
Para a realização de exames de rotina, na tarde do dia 7 de janeiro de 1972, Monsenhor Kleine foi internado no Hospital. Nada indicava um fim tão próximo: às 2h da madrugada do sábado chuvoso, dia 8, foi encontrado morto, vítima de infarto, aos 57 anos. Uma perda irreparável e dolorosa para todos, especialmente para a Igreja.
“AZAMBUJA SENTIU TRANSFORMAR-SE INTEIRAMENTE NESSES ÚLTIMOS 23 ANOS, COM TEU TRABALHO E DEDICAÇÃO. E TODOS O SABEM E VEEM!” (Padre Vitus Schlickmann Roetger, Reitor do Seminário e do Santuário de Azambuja, em 9/1/1972, no Parque da Saudade)
O povo brusquense o chorou como um amigo que se perdia e em grande número acompanhou o féretro ao Parque da Saudade. Esse novo campo santo, inaugurado, mas rejeitado pelos brusquenses porque solitário, foi finalmente aceito: ali estava enterrado Monsenhor Guilherme Kleine.
“MONSENHOR KLEINE SENTIA-SE FELIZ EM VER REALIZADO SEU SONHO E AQUI NESTA APRAZÍVEL COLINA SURGIA O TÃO ESPERADO CEMITÉRIO.” (Prefeito Municipal José Germano Schaefer, em 9/1/1972, sobre o trabalho de Kleine para a implantação do Cemitério Municipal Parque da Saudade, em área cedida por valor simbólico pela Igreja Católica, representada pelo Monsenhor Guilherme Kleine)
No livro Sentinela do Passado II, o professor José Zen relata que “uma de nossas tradições marcantes foi a carruagem fúnebre, chamada de caleça. Pobres e ricos não dispensavam o serviço funerário nesta monumental carruagem negra. Imponente, toda trabalhada e torneada na sua construção, pintada com verniz negro brilhante, dava um tom austero nas cerimônias fúnebres. Durante 34 anos ela transportou nossos falecidos, católicos e evangélicos, às suas últimas moradas. O hábito era a caleça puxar o cortejo e todos os participantes, a pé, seguiam até ao cemitério, numa reverência bonita ao falecido. Os carros ficavam em casa.
Rodolfo Pruner era o proprietário da carruagem e sua presença na condução do veículo era ponto de honra, de terno preto e gravata. A parelha de cavalos era do mesmo modo negra e impecável, limpa e lustrada até as patas. Era um capricho que seu Rodolfo nunca desprezou. Seus filhos, Erna e Chico, lembram que o primeiro funeral que seu Rodolfo realizou, utilizando a caleça, foi para sua vizinha senhora Agnes Wagner Ulber, progenitora do nosso querido expedicionário Kurt Ulber, que lembra com pesar este acontecimento: 17/09/1938. Como foi o primeiro enterro, seu Rodolfo dispensou o pagamento. Seu último enterro foi realizado em 1972, ocasião em que transportou o padre Kleine até o cemitério. Este sacerdote foi grande benemérito do complexo hospitalar e religioso de Azambuja. Vieram as funerárias e com elas o carro a motor e lá se foi uma das nossas mais autênticas tradições. A caleça está hoje na Casa de Brusque, doada pela família. Descanse em paz!”.
Obs: Texto do historiador Paulo Vendelino Kons



