Maior reclamação é para “pegar o bonde”
Como de costume, nesta quarta-feira (3) ocorreu a última inspeção do ano na Unidade Prisional Avançada (UPA) de Brusque. Coube ao juiz-corregedor da prisão, Edemar Leopoldo Schlosser, andar pelos corredores das carceragens e, também, dos demais ambientes, a fim de verificar como estão ocorrendo os trabalhos no local. Além disso, cerca de 25 presos tiveram a oportunidade de indagar Schlosser acerca de dúvidas sobre progressões, benefícios, além de outras questões que envolvem seus processos.
A inspeção durou, aproximadamente, duas horas e contou, ainda, com a presença da promotora de justiça Suzana Perin Carnaúba, além de representantes dos conselhos comunitários da cidade de Brusque. A mesma atividade é feita em toda primeira quarta-feira dos meses. “Depois, temos que elaborar um relatório para o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e para a corregedoria do Tribunal de Justiça (TJ) sobre a situação da Unidade Prisional”, pontua Schlosser.
Trabalho x remissão
O primeiro local visitado foi onde ficam os contêineres destinados ao trabalho dos detentos. No local, empresas como a Irmãos Fischer, Mondeli e Sancris disponibilizam vários tipos de atividades laborais, a fim de tornar possível a volta do criminoso para a sociedade de maneira íntegra. Hoje, como estamos perto do final de mais um ano, apenas duas pessoas trabalhavam por lá. A cada três dias trabalhados, é descontado um de suas penas. Além disso, é possível tirar até R$ 1000 por mês, destinados às suas famílias ou, então, guardado até a saída do recluso da unidade carcerária.
Entrevistas
O juiz Edemar, também o titular da Vara Criminal da Comarca de Brusque, ouviu 26 presos que tinham dúvidas acerca do andamento de seus processos. Como era de se esperar, a maioria deles perguntou sobre as tão sonhadas progressões de regime. Alguns, por outro lado, queriam “pegar o bonde”, ou seja, a transferência para outra unidade. Por este motivo, dois detentos chegaram, até mesmo, a se exaltar perante a autoridade.
Para Edemar, muitas coisas dependem do Estado e não somente de sua boa vontade. “Não cabe o juiz conceder a vaga e, sim, autorizar a transferência do preso e solicitar a vaga, que é o que a gente faz sempre que sai uma sentença condenatória”, ressalta.
Um dos detentos conversou com a imprensa durante a inspeção. Rômulo Silva Stolze, preso após investigação da Polícia Civil de Brusque acerca do crime de tráfico de drogas, diz que o momento em que o Judiciário vem ao presídio é muito importante para que todas as dúvidas processuais sejam sanadas. Apesar disso, apontou alguns problemas na UPA.
“Olha, está lotado algumas celas. Não temos remissão em nada. Tinha um professor que se acidentou e não foi substituído. Era a única coisa que tínhamos remissão. Já tem dois meses que ele está ausente da casa. O trabalho é o mínimo possível, geralmente pro pessoal do seguro e o convívio não tem nenhum”, diz.
Como de costume, a comitiva passou, também, pela cozinha da UPA, onde dez presos de confiança preparam refeições para os demais detentos e alguns funcionários. A horta mantida por dois encarcerados também foi visitada.
Por fim, Edemar concedeu coletiva à imprensa, ressaltando vários pontos sobre a última inspeção do ano. Para ele, essas inserções são importantes por conta de que, às vezes, os presos são esquecidos durante o cumprimento de sua pena. “Por vezes os advogados esquecem-se do acusado depois do término do processo, por isso ficam desamparados. Por isso, a única esperança dos presos para tirar as dúvidas é nessas inspeções”.
Feedback
Cumprindo o objetivo de tais inspeções, a estrutura física da Unidade Prisional Avançada de Brusque irá receber nas próximas semanas uma nova pintura, reparo no telhado, sem contar com os que já foram feitos. Edemar também ressaltou a disciplina dos presos. “Graças à administração. O silêncio, a ordem, a disciplina. Claro que alguns presos se exaltam pela ansiedade de conseguirem vagas, mas, no mais, está tudo sob controle, sem qualquer motim”, finaliza.