'Gangues' em Brusque

Já não bastasse todos os problemas que as forças de segurança pública enfrentam para tentar manter a cidade de Brusque pacífica e ordeira, surge uma nova situação. Ocorre que, há alguns meses, vem crescendo o número de jovens que, em grupos, se digladiam contra “gangues” rivais. O desejo por violência física e vingança, quando algum membro é alvo de rivais, parece ser o que os move. Para piorar a situação, por muitas vezes os bandos são compostos, na sua essência, por menores de idade.

As brigas são marcadas pela internet e, geralmente, reflexos do que acontece nos finais de semana, quando os grupos saem para beber e se concentrarem na região central da cidade, geralmente na Praça da Cidadania, localizada em frente ao terminal urbano, na Rua Germano Schaefer. Por vezes, um olhar torto já vira motivo de ameaças e pancadaria. E é na rede mundial de computadores que os mesmo se expõem, adotando uma postura ostensiva e exigindo respeito aos membros das gangues, geralmente nominadas por siglas como GDC (Galera do Centro/extinta), GDM (Galera do Mal), WS (significado não informado), etc.

Existem relatos feitos por uma fonte ligada a um desses grupos, em entrevista à Rádio Cidade, de que no último domingo (11) alguns integrantes destas gangues estariam se preparando para um confronto. Inclusive armados com facas, pedras e pedaços de madeira. A briga acabou não ocorrendo.

Ainda de acordo com o entrevistado, muitas pessoas já não passam mais pelo Centro com medo de serem atacadas, fazendo com que o local, geralmente a passagem do Shopping Gracher para o terminal urbano, se torne hostil: pedestres estão começando a evitar passar por ali, preferindo dar a volta no quarteirão.

“Começou com a GDC (Galera do Centro) há muito tempo. Aí foi criando outras, mas essas outras, se não me engano, começaram esse ano. A GDM (Galera do Mal) é de um pessoal lá do Bairro Águas Claras (citou nomes, mas, não serão divulgados). O negócio deles é uma gangue ‘pegar’ a outra sempre que pode. A WS anda com faca, pau, soco inglês, essas coias”, denunciou o entrevistado.

O que diz a Polícia Militar

De acordo com o tenente-coronel Heriberto Rocha Peres, comandante do 18º Batalhão da Polícia Militar de Brusque, quase a totalidade dos membros das ditas “gangues” já está identificada nominalmente e, inclusive, com imagens. O serviço de inteligência da PM (P3), juntamente com o serviço reservado (P2), o Pelotão de Patrulhamento Tático e as guarnições operacionais já estão se movimentando para atuar firmemente para a manutenção da paz.

“Vou deixar bem claro para esses jovens que estamos fazendo um trabalho investigativo. Para os pais desses jovens eu digo que eles podem ser apreendidos e, se maiores, levados à prisão. A Polícia Militar não vai ter meio termo nesta situação, porque com segurança não se brinca. O trabalho já está acontecendo. Pais, população em geral, jovens inteligentes, ajudem a manter a paz em nossa comunidade”, diz, energicamente, o oficial.

A Polícia Militar brusquense, além da operacionalidade e ostensividade, com rondas feitas por alunos soldados nos principais pontos de gangues – o que acarreta na não diminuição do contingente de rua – vêm, também, atuando por outra frente, a da previsão e educação. O soldado PM Guilherme Sedrez, destaque estadual, ganhador de vários prêmios na área policial militar, tem desempenhado, já há algum tempo, o Policiamento Escolar de Aproximação (PEA).

Trata-se de palestras ministradas por ele nas principais escolas da cidade, tendo como público alvo os adolescentes, principalmente do ensino médio. “É o público que está mais propício a entrar nas drogas, violência, na parte criminal. Faço visitas nas escolas, acompanhamento de alunos que estão com algum registro criminal, palestras sobre uso de drogas, com mais ênfase na criminalidade. Queremos mostrar, também, que as leis existem e em Brusque serão cumpridas”, pontua Sedrez.

Segundo ele, é um trabalho árduo, que ainda encontra-se no começo, mas que já é possível colher alguns frutos. “Estão elogiando a gente ao máximo, dizendo que era isso que precisavam”, encerrou.

A visão do Conselho Tutelar

Para Paulo Vendelino Kons, conselheiro tutelar de Brusque, tudo começa com a educação que os jovens trazem de casa, desde pequenos. É necessário, também, impor limites e restrições sobre horários, sempre acompanhando, na medida do possível, os jovens em suas atividades. “Muitas vezes, quando vou ao Conselho Tutelar, na Praça da Cidadania, vejo, de manhã, à tarde e à noite, que os jovens estão lá, ‘gazeando’ aula, inclusive, fazendo consumo de álcool. Quando vamos avisar a família, eles nem sabem que estão ali”, disse.

Kons relata que, a partir dos 12 anos de idade, o jovem já responde por ato infracional, podendo receber medida socioeducativa de advertência, reparação de dano, prestação de serviços à comunidade, inserção ao regime de semiliberdade, liberdade assistida e, até mesmo, internação. “Ele pode ser privado de liberdade por, até, três anos”, relata. O conselheiro conta, em detalhes, um episódio ao qual foi testemunha, quando um jovem ensanguentado chegou à sede do órgão. “Ele era de um grupo e se envolveu numa briga com outra gangue”, pontuou.

Em revelação que surpreende, o conselheiro tutelar afirma que um dos episódios mais trágicos, tratando-se de grupos de jovens que se reúnem em gangues, foi o do assassinato de Mislaine Ribeiro da Silva (22), ocorrido no dia 25 de dezembro de 2013. De acordo com Kons, em uma roda de amigos, o autor do crime bárbaro teria dito que ia “carbonizar uma mina” no dia de Natal. Relembre o caso.