Durante a pandemia de Covid, Cristofer Nunes e sua esposa Flavia abriram as portas de sua casa, literalmente, para acolher moradores de rua. Passado o surto da doença, a residência do casal, no bairro Jardim Maluche, em Brusque, continua atendendo dependentes do álcool e das drogas. Hoje, 22 pessoas recebem atendimento no local.
Cristofer é pastor e coordena os trabalhos na Casa Missionária Peniel, que é um projeto sem fins lucrativos. Nesta terça-feira (18), ele participou do programa Rádio Revista Cidade e falou sobre o trabalho da Missão Peniel. A entidade está tentando conseguir o título de utilidade pública e, assim, ficar isenta de impostos e conseguir receber recursos públicos para manter e expandir suas atividades. Cristofer disse que já apresentou o projeto ao presidente da Câmara de Vereadores de Brusque, Jean Dalmolin (Republicanos). A proposta será analisada pelo Legislativo.
Processo de reintegração
Na Missão Peniel, o processo de reintegração de pessoas à sociedade e ao mercado de trabalho ocorre em quatro etapas. A primeira etapa envolve acolher pessoas que chegam da rua e realizar entrevistas para entender suas condições de saúde e histórico, para garantir a segurança do grupo. “Para saber se tem alguma doença, uma enfermidade, algo que possa colocar em risco o grupo, ou se tem passagem pela polícia, que está foragido”, explicou Cristofer.
Cristofer comentou que o tratamento foi estruturado em uma rotina, que inclui momentos de reflexão e espiritualidade, como o devocional pela manhã. “Eles (moradores) têm hora para acordar. A gente tem o devocional da manhã. A gente senta na sala. A gente trabalha tudo com a Bíblia. Nossa regra ali é a palavra de Deus, voltado ao caráter, não a religiosidade.”
O tempo de permanência na casa varia de quatro a nove meses, dependendo do interesse das pessoas em buscar uma mudança. Cristofer assinalou que cada caso é único e realmente não existe uma fórmula mágica, pois os desejos de mudança variam de pessoa para pessoa.
Em sua opinião, é fundamental ter coragem e ousadia para agir em prol da mudança na vida das pessoas em situação de rua. “Não adianta tirar da rua e levar para um lugar que é pior do que a rua, não adianta. Tem que dar uma qualidade de vida”, destacou o pastor, que afirmou conhecer a vida de drogadição na prática. “Quando eu tive uma oportunidade que foi me dada por Deus, eu mudei”, declarou.
O caso do Chico, ex-morador da Casa Peniel que se recuperou e já está trabalhando, é dos exemplos citados por Cristofer de como o apoio e a recuperação de pessoas que enfrentaram a dependência química podem levar a um recomeço.
Abuso sexual na infância
O pastor revelou que muitos homens que vivem em situação de rua enfrentaram traumas profundos, incluindo experiências de abuso sexual na infância. “Quarenta por cento, se não mais dos homens que estão na rua, eles estão na rua porque foram abusados sexualmente quando eram crianças e eles não encontram alguém para fazer a cura do coração, aquela abertura de dizer cara eu fui violentado”, contou Cristofer, que oferece aos moradores da Casa Peniel a empatia e a escuta ativa para ajudar na cura desses corações feridos.
Trabalho integrado
O pastor auxilia, voluntariamente, os trabalhos da Assistência Social e das Polícias Militar e Civil, de forma a monitorar os moradores de rua da cidade.
Sua intenção é que seja colocado em prática em Brusque um modelo estruturado para ajudar pessoas em situação de vulnerabilidade. A ideia é que cada indivíduo receba o suporte adequado com base em suas necessidades específicas. Para isso, ele acha que as Polícias, a Assistência Social e o Sistema Nacional de Emprego (Sine) deverão atuar de forma integrada.