“As crianças são, teoricamente, um grupo privilegiado dentro dessa pandemia em relação aos sintomas”

A pandemia do Coronavírus tem trazido grandes consequências nas nossas vidas. A principal delas afeta a saúde de muitas pessoas. Algumas, inclusive, nem resistindo às complicações causadas pela ação do vírus no organismo.
Em Brusque, já são 207 mortes. O vírus que ainda é um inimigo desconhecido, tem sido estudado e aos poucos vem sendo desvendado. Um grupo que tem passado de certa forma ileso, mas que precisa de um olhar atento são as crianças.
A Rádio Cidade, para esclarecer algumas dúvidas sobre o tema, conversou com a pediatra Maria Irene Martins Fidelis. A pediatra salienta que se mantenha os protocolos de segurança e em caso de dúvidas sempre procure um profissional médico para avaliação.
Confira a entrevista.
Rádio Cidade - Como é a ação do Coronavírus em crianças?
Maria Irene – As crianças são, teoricamente, um grupo privilegiado dentro dessa pandemia, porque ou têm sintomas leves ou são assintomáticos. Não se sabe ainda ao certo o motivo dessa proteção que eles têm. Existem alguns questionamentos na ordem de que algumas vacinas que as crianças recebem possam ter, também, um fator de proteção. Mas não tem nada muito determinante do que é a causa dessa possível proteção
Rádio Cidade – Algumas crianças podem ter complicações com a doença?
Maria Irene - Existe uma pequena porcentagem da população pediatra que infelizmente pode apresenta alguma gravidade. Esses casos são chamados de Síndrome Inflamatória Multissistêmica. Não são números expressivos, mas é óbvio que quando ocorre um óbito dentro da pediatria por uma complicação de Coronavírus, isso acaba chamando muito a atenção.
Rádio Cidade - Houve um aumento nos números de casos em crianças desde o início da pandemia?
Maria Irene - Não existe nenhum estudo cientifico estatístico que comprove o aumento dos números de crianças acometidas pelo Covid-19. Eles são semelhantes ao que tivemos o ano passado. Até com um certo declínio. Temos que entender que estamos entrando no momento de sazonalidade desse vírus, associado a outros vírus que podem estar nessa época do ano presentes
Rádio Cidade – O que se recomenda sobre o uso de máscaras em crianças?
Maria Irene - A sociedade de pediatria recomenda que crianças menos de dois anos até dois anos elas não devem usar máscaras pelo risco de sufocação. Tem também o mal uso da máscara, devido ao manuseio excessivo. As crianças, nessas idades, não têm esse entendimento. Dos dois aos cinco anos pode ser usado, mas se a criança mostrar muitos sinais de imaturidade, de não saber lidar ou compreender, a orientação do pais deve ser também evitado. Acima de cinco anos deve se usar máscaras. Importante também os pais e responsáveis ficarem atento aos tamanhos das máscaras. As cirúrgicas são grandes e acabam tapando o rosto todo. Então, as de tecido, com a higienização certa, são menores e podem ser usadas.
Rádio Cidade - Existe vacina para crianças contra o coronavírus?
Maria Irene - Não. Existem estudos da vacina sendo aplicadas em crianças. O laboratório Coronavac já conseguiu fazer o teste em 500 crianças, desde os menores até adolescentes, e os resultados são de segurança e de uma boa formação de anticorpos. Esse estudo ocorreu entre crianças de 03 a 17 anos, e a resposta comparativa foi boa em relação ao uso da vacina. Mas a liberação dependerá demais testes. É um assunto importante, porque apesar das crianças não desenvolverem casos graves da doença. Elas atuam também como transmissores e algumas acabam tendo fatores de risco. A Organização Mundial da Saúde defende que seja feita a vacinação em lactantes, pois, além da imunização dela, isso também aumentaria a imunidade dos bebes que estão sendo amamentados
Rádio Cidade - O que os pediatras, na sua maioria, pensam sobre as aulas presenciais?
Maria Irene - A Sociedade Brasileira de Pediatria é favorável ao retorno das aulas presenciais, desde que sejam obedecidos os protocolos de cuidado. Eu, pessoalmente, também sou favorável ao retorno. Entendo que a faixa etária pediátrica foi muito crucificada nessa pandemia. Fico pensando: qual é o custo disso para o desenvolvimento, para o crescimento, e aprendizado dessas crianças? Mas, por outro lado, esse retorno precisa ser feito com uma margem de segurança muito grande, tanto para os alunos, como para as pessoas que trabalham na área. E a gente tem percebido um cuidado dos gestores com isso. Quando a criança apresenta qualquer sintoma, ela é afastada. Qualquer coriza os pais são orientados a não mandarem seus filhos para escolas. Então, está se tendo um cuidado.