′Clínica Uni Duni Tê comemora 25 anos de fundação

Na última sexta-feira (7), a Clínica Uni Duni Tê, mantida pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Brusque, comemorou com bolo seus 25 anos de fundação. Além de pioneiro, também é inédito em Santa Catarina o serviço de estimulação essencial e de acompanhamento da primeira infância para crianças de zero a cinco anos.

Hoje, a unidade recebe recém-nascidos de Brusque, Guabiruba e Botuverá. Mais de 2600 crianças são atendidas por ano e, 120 delas, com algum atraso de desenvolvimento, mantêm terapias no local duas vezes por semana. Tudo de forma gratuita.

O projeto piloto iniciou em 1987, quando um grupo de profissionais da instituição lançou um desafio: ainda que a APAE recebesse alunos com deficiências, parte do trabalho deveria manter o foco na prevenção e na descoberta precoce da deficiência intelectual. A intenção era, com a intervenção apropriada, minimizar o atraso do desenvolvimento neuropsicomotor. 

“Nosso sonho era que a Clínica Uni Duni Tê fosse fundada para fechar o Instituto Santa Inês (Apae de Brusque). Hoje, 25 anos depois, nós ainda sonhamos alto. Acreditamos que as crianças na estimulação essencial talvez não precisem desse acompanhamento depois dos cinco anos, porque conseguiram se desenvolver. Claro, é uma utopia. Mas temos a certeza de que o número de novos alunos da APAE diminuiu. E vai diminuir mais, porque as coisas mudam. Hoje, crianças com deficiências já estão na escola. As perspectivas são outras”, afirma o vice-presidente da Apae, Márcio Belli.

De forma voluntária, Belli acompanhou o início dos trabalhos da Clínica Uni Duni Tê, quando Brusque foi dividida em quatro regiões mais populosas e a intervenção começou no bairro Guarani, com apoio da Prefeitura Municipal, Associação de Moradores e da Igreja.

Para iniciar o projeto, antes de tudo, era preciso discrição. Voluntários e profissionais da Apae foram sensíveis na logística do projeto. Para eles, poderia não ser confortável à família que acabou de ter um bebê, uma Kombi da Apae estacionada na frente de casa. Então, para visitá-las, eram utilizados carros particulares ou taxi.

“O que nós encontramos foram crianças que precisavam do atendimento e, também, pais que tinham vontade de aprender sobre as fases do crescimento dos filhos. Não havia em Brusque um lugar onde a família pudesse conversar, expor seus anseios e dificuldades, receber uma orientação. No final do mapeamento daquele bairro desistimos de atuar nas outras três regiões da cidade porque parecia mais viável fundar uma clínica com este propósito”, conta a diretora Executiva da entidade, Sandra Helena de Almeida.

Teste do Pezinho e teste da orelhinha

A Clínica Uni Duni Tê iniciou seus trabalhos em setembro de 1991, no centro de Brusque. No mês seguinte, por convênio firmado com a secretaria municipal de Saúde e com o Governo do Estado, passou a oferecer gratuitamente o Teste do Pezinho, ainda pouco procurado naquela ocasião. Apesar do Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) ter como data de início do teste do pezinho o ano de fundação 1992, a Uni Duni Tê mantém registros de exames feitos pelo laboratório no final do ano anterior.

“Uma das certezas que se tinha na época é que a Uni Duni Tê não poderia funcionar dentro das instalações da APAE. O objetivo era receber todas as crianças de Brusque, Guabiruba e Botuverá, com ou sem deficiência, para estimulação essencial e monitoramento. Ainda assim, acreditamos que as famílias ficariam receosas de trazer seus filhos para um local que, naquela época, assim como ainda hoje, atende pessoas com deficiência. Foi preciso escrever esses mais de 20 anos de atuação sem dividir o mesmo endereço. Hoje, os trabalhos acontecem tranquilamente no mesmo espaço porque a comunidade entendeu a diferença”, afirma Belli.

Em 2002 a Clínica Uni Duni Tê mais uma vez fez história e saiu na frente, com a doação do aparelho de emissões otoacústicas por distorção, o que havia de mais moderno na época para algo que começava a se consolidar como “Teste da Orelhinha”. O equipamento foi doação do Rotary Internacional. Apenas em junho do ano seguinte foi sancionada a Lei Municipal que estabeleceu como obrigatoriedade a realização da triagem auditiva neonatal. Para se ter ideia do quanto Brusque estava à frente do seu tempo, a mesma lei só foi sancionada em 2010 no Brasil, oito anos depois.

“Recebemos um imitanciometro do Instituto Guga Kurtnen e hoje utilizamos outros equipamentos de ponta, adquiridos com recursos do Juizado especial, pedágio e Clube de Mães da APAE, capaz de fazer uma triagem mais completa em crianças com indicadores de risco de perda auditiva. Somos, com certeza, a única instituição que realiza Teste do Pezinho e Teste da Orelhinha em convênio com o SUS, que atende quase 100% dos recém-nascidos pela busca ativa e ainda presta serviço de acompanhar o desenvolvimento até os três anos”, ressalta a coordenadora da Clínica Uni Duni Tê, Valdete Battisti Archer.